quarta-feira, 28 de setembro de 2011

MÚSICAS COM SENTIDO DÚBIO?

AS VEZES SOMOS PEGOS DE SURPRESA POR ALGUMAS MÚSICAS QUE FICAMOS EM DÚVIDA SERÁ QUE QUIS DIZER ISSO MESMO?
ENCONTREI UMA MATÉRIA DO YURI DE PORTO ALEGRE QUE ESPECIFICA MAIS ESSE ASSUNTO..


Uma canção como Final Feliz, de Jorge Vercilo, pode ser considerada uma obra gay? A princípio não, mas se analisarmos os versos -"...chega de fingir /eu não tenho nada a esconder /agora é prá valer /.../ Pode me abraçar sem medo / pode enconstar tua mão na minha..."-, podemos encontrar uma certa mensagem de teor homoerótico. Isto está correto? Depende do ponto de vista.

A possibilidade de leitura dúbia das letras de muitas músicas faz com que seja muito difícil traçar um panorama abrangente sobre a manifestação homoerótica no panorama musical brasileiro. Se por um lado fica fácil o entendimento onde a canção traz uma mensagem explícita, por outro, a coisa complica diante da possilidade de encontrar um conteúdo gay nas entrelinhas de várias outras obras não assumidas. Isto faz com que a tentativa de aprofundar o assunto de uma maneira séria esteja, antecipadamente, condenada ao insucesso.

Porém, como acho o assunto muito interessante, registro aqui alguns comentários a respeito de artistas que projetaram a o universo gay na mídia, seja através de canções, de uma proposta de trabalho ou de sua história pessoal.

O GÊNIO DE OLHOS VERDES



Chico Buarque de Hollanda é um compositor que contribuiu com ótimas canções para o universo musical gay brasileiro. De forma explícita, pelo menos duas de suas obras podem se enquadrar como conteúdo homoerótico. Uma é Bárbara, composta no início da década de 70 para a peça censurada "Calabar - O Elogio da Traição" , na qual duas mulheres (Ana e Bárbara) cantam seu amor mútuo com versos do tipo -" ..o meu destino é caminhar assim desesperada e nua / sabendo que no fim da noite serei tua.."- e, depois, na parte mais explícita -".. vamos ceder enfim à tentação das nossas bocas cruas / e mergulhar no poço escuro de nós duas / vamos viver agonizando uma paixão vadia / maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia.."-. Existem várias gravações desta música, sendo que a mais bela é o dueto entre Simone e Gal Costa.

Outra de suas obras é Geni e o Zepelim, composta para a peça "A Ópera do Malandro", que conta a história de um travesti semi miserável que é alvo da exploração popular, tanto sexual quanto política. Versos fortes e diretos marcam a triste história da frágil criatura -" ...de tudo que é nego torto / do mangue e do cais do porto / ela já foi namorada / O seu corpo é dos errantes / dos cegos, dos retirantes / é de quem não tem mais nada.."-.

Tanto Barbara quanto Geni são bonitas canções, mas é interessante notar que foram compostas para personagens específicos, dentro de obras teatrais, portanto podem não ter um caráter emocional mais abrangente.

SAMBA CONTRA O PRECONCEITO



Dentro do seu notório espírito plugado e combativo, a sambista Leci Brandão lançou em 1978 a triste canção Ombro Amigo que retratava, de forma brilhante, a dificuldade da condição gay da época. A letra inicia afirmando a condição do amor marginal - " ...voce vive se escondendo / sempre respondendo com certo temor / eu sei que as pessoas lhe agridem / e até mesmo proibem sua forma de amor.."- e segue trazendo uma certa esperança -"...num dia , sem tal covardia, voce poderá com seu amor sair / agora ainda não é hora de você, amigo, poder assumir..." - e finaliza -"... e você tem vir pra boate / pra bater um papo ou desabafar / e quando a saudade lhe bate / surge um ombro amigo prá você chorar..."-. Ou seja, a música mostra que, nos 70´s, o gay só encontrava nos guetos (tipo boate) o espaço acolhedor para poder expressar seus sentimentos. Isto era muito verdade.

O BREGA E AS BIXAS



Uma obra fundamental para o entendimento da musica brasileira é o livro "Eu não sou cachorro não - música popular cafona e ditadura militar" do jornalista e historiador Paulo Cesar de Araujo. Neste livro, o autor dedica algumas páginas para discutir o trabalho de vários cantores, considerados "bregas", que lançaram músicas falando sobre o universo homo na década de 70. Agnaldo Timoteo, Wando, Nelson Ned e Odair José são listados como artistas que ousaram abordar o tema durante o período mais terrível de censura às artes.

Entre 1975 e 1977, Agnaldo gravou três discos que acabaram por formar a chamada Trilogia da Noite. De 1975 é A galeria do Amor, uma ode explícita à Galeria Alaska em Copacabana, um notório local de encontros gays do Rio de Janeiro. Diz a letra -"...na galeria do amor é assim / muita gente à procura de gente / A galeria do amor é assim / um lugar de emoções diferentes / Onde gente que é gente se entende / onde pode se amar livremente..."-. No livro, Agnaldo conta de onde surgiu a inspiração para a música : "Eu fiz esta canção por causa de uma noite de paquera. Eu cheguei de viagem, joguei a mala de dinheiro numa gaveta do quarto, desci, peguei meu carro e fui paquerar. E chegando ali eu vi aquele ambiente, as pessoas se olhando, os coroas paquerando os menininhos... foi numa noite de paquera. Aquilo que eu retratei na letra foi real, absolutamente real" . Devido ao sucesso de "Galeria do Amor", Agnaldo gravou mais dois discos na mesma linha Perdido na Noite, de 1976 e Eu Pecador ,de 1977.

Em 1978 Wando gravou Emoções que falava sobre a descoberta do amor entre dois adolescentes - "...nos fizemos tão meninos / livres tão vadios de tanto querer..."- a letra segue revelando o medo dos garotos se entregarem à paixão, mas finaliza -"...a lua iluminou teu corpo / moreno bonito pra me provocar / No teu rosto um riso lento / misturado ao pranto eu vi desabrochar / Te agasalhei nos braços / pele, mãos, espaços acariciei / Te amei suavemente e tão docemente / Eu me fiz teu rei..."-. Nossa !! Wando, o que é isto ??

Odair José com Forma de Sentir -"..sei que és entendido e vais entender / que eu entendo e aceito a tua forma de amor..."-, e Nelson Ned, com Meu jeito de amar, que conta o drama de um rapaz que sofre por sentir um "amor proibido pelas leis deste mundo..."também falaram de forma mais ou menos explícita sobre o tal amor que não ousa dizer o nome.

ROCK- DA INOCÊNCIA À CONSCIÊNCIA



No início dos 80´s ocorreu uma revolução na música nacional com rock invadindo a grande mídia. Das obras da época, lembro de duas músicas do Léo Jaime que abordaram o mundo gay buscando ser engraçadas. Uma é Aids, composta dentro da inocência de quem ainda não sabia no que iria se tornar esta terrível praga mundial. Dizia a letra -"...é a última moda que vem de Nova York / e deve ser bom como tudo que vem do norte..." - e, depois, no refrão que o povo pulava e cantava em coro -"...aids, não tente colocar band-aid..."-, que soava assim -"..êidis, não tente colocar bandêidis !!..."-. Veja só !!

Outra do Léo é Sônia (versão de Sunny), que diz em um certo trecho -"..você na frente e eu atrás / atrás de mim um outro rapaz / Sonia, meu amor, que loucura..."-. Realmente!!

Lulu Santos, com toda sua verve pop, perpetuou, em Toda Forma de Amor, a frase definitiva sobre o respeito universal -"...consideramos justa toda a forma de amor..."-. Sábio Lulu !

Pode parecer heresia mas acredito que os dois maiores ícones gays do rock brazuca, Cazuza e Renato Russo, não criaram musicas marcantes no assunto. Talvez o Renato tenha sido mais explícito com Meninos e meninas - " ...e eu gosto de meninos e meninas / vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre..."-. Também o Renato, no momento da saída do armário, gravou o The Stonewall Celebration Concert, uma homenagem aos gays que resistiram à invasão do Bar Stonewall no Greenwich Village (New York /Julho de 1969). Porém é um disco sem músicas nacionais, o que é uma pena.

Cazuza escreveu em O tempo não pára uma frase contundente -"... te chamam de ladrão, de bixa, maconheiro / transformam o país inteiro num puteiro / pois assim se ganha mais dinheiro..."- Talvez este grito de revolta tenha sido a referência mais explícita à causa gay do poeta.


ASSUMIDOS E SEM PRECONCEITOS



Uma discussão recorrente no meio gay é enclausuramento no armário de determinados artistas. Nesta discussão muito se especula em relação a certos nomes, mas a verdade é que só quando um artista assume sua condição homossexual publicamente é que se pode ter certeza de alguma coisa. Alguns assumiram, como Angela Ro Ro, Cássia Eller, Vange Leonel, Laura Finochiaro e Edson Cordeiro.

Ro Ro é uma sobrevivente do século passado que causou grande furor na inocente sociedade brasileira com sua "atitude agressiva" e um certo escândalo sentimental. Alvo de críticas dos juízes de plantão, ela acabou se recolhendo durante muitos anos e agora está de volta, renovada e recuperada, com um programa de entrevistas na televisão. Confesso que não me lembro de nenhuma música explicitamente gay que ela tenha composto, mas é dela uma bela gravação de Bárbara.

A insubstituível Cassia Eller, que nunca escondeu sua condição de lésbica, gravou várias canções para a comunidade. Exemplos: Eles -"..os meninos e as meninas / os meninos e os meninos / as meninas e as meninas / eles só querem é gozar..."-, e Rubens -"..a sociedade não gosta / o pessoal acha estranho / nós dois bricando de médico / nós dois com esse tamanho.."- e depois - "...quero te apertar / quero te morder, me dá / só que eu sinto uma dúvida no ar: / Rubens, será que dá? / a gente é homem / o povo vai estranhar .... Rubens, eu acho que dá pé / esse negócio de homem com homem, / mulher com mulher..." -. Grande Cássia !!

Vange é uma compositora e escritora que alcançou grande sucesso nacional com a música Noite Preta, tema da novela Vamp. Dela é uma música muito legal, Esse mundo, que retrata um certo sonho de congregação da comunidade gay. A canção inicia -" ...bem vindos, bem vindos aqui / o trem já vai partir / desarmem suas tendas temos muito a descobrir / não há um lugar no mundo onde não podemos ir..." - e depois traz um certo sentimento utópico de unidade -"...esse mundo vai nos ver brincar / esse mundo vai nos ver sorrir / esse mundo vai nos ver cantar..". Já em outra canção, Rabo de Sereia, ela é bem explícita -"...diga que me odeia, diga que me quer / eu sou sua parceira, eu sou sua mulher / chave de cadeia, buraco do ladrão / rabo de sereia, juba de leão / você incendeia o meu coração / minha companheira, minha direção / só de brincadeira, diz que não me quer / larga de besteira, eu sou sua mulher.."-. Uau !

Com imagem de artista cult, Laura Finochiaro nunca atingiu o grande público e talvez, desconfio, também não conseguiu grande penetração na comunidade gay brasileira. Porém é dela, em parceira com Glauco Mattoso e Beto Firmino, o Hino da Diversidade, uma bela canção sobre a celebração ds diferenças que ela entoou na parada Gay de SP em 2000.

Edson Cordeiro gravou vários discos, na minha opinião irregulares, antes de encontrar o filão da disco music. Sua maior ousadia artística na área é o clip de "Don´t let me be misunderstood", com forte conotação sexual homoerótica, que foi banido das tvs brasileiras.

ACREDITA NA FORÇA DO BATE CABELO !!



No estilo drag-music (seja lá o que isto pode significar) existem lançamentos de artistas tipo Dimmy Kier, Léo Áquila, Selma Light e Michelly Summer, que trafegam entre o universo da dance music, o hilário e o caricato. Andreia Gasparelly talvez possa ser considerada a precursora do estilo com o lançamento de um cd, acho que na década de 80, que trazia a pérola "Desaqüenda la Mona".

Por outro lado, o MC Serginho também contribuiu com a classe colocando sua drag-passista-transformista-techno-pornô Lacraia como personagem de alguns de seus funks. Em um deles a musa do pós-apocalipse canta -"... eu te dou um dinheirinho, você come o o meu c..inho..."-. Sem comentários. Pano rápido e força na peruca !

PUNK GAY ESCATOLÓGICO



Mais recentemente surgiu aquela que talvez tenha sido a primeira banda de punk rock assumidamente gay do Brasil. É a Texticulos de Mary, que particularmente gosto muito, uma banda de Recife que traz um som porrada, um misto de hardcore, punk e glam rock. As letras vão desde o hilário ao escatológico. Uma idéia : -" ..eu quero ser tua cadela / engatada no teu pau / um suicida agarrado na tua perna / um coração exposto pela via anal" (Propóstata)-. Singelo, não? O curioso é que os integrantes da banda falavam (sim, "falavam" pois grupo já acabou) que o Texticulos tinha mais receptividade no meio roqueiro do que no meio gay. Os gays, talvez muito sensíveis, não gostavam do som ("muito sujo"), ou das letras ("muito sujas") ou da postura da banda ("muito sujos"). Isto lembra uma frase que diz : "gay não gosta de rock pesado". Será verdade? De qualquer forma os Texticulos prometem o lançamento de mais um cd, mesmo que a banda não exista mais. Tô aguardando !

FECHANDO A ROSCA

Como disse inicialmente, o assunto dá muito pano prá manga e é inesgotável. Mas de qualquer forma acho válido que estes parcos registros sejam feitos. É importante saber que alguns artistas, mesmo correndo um certo risco diante da hipocrisia social, tenham a coragem de projetar o universo gay, seja em seus trabalhos ou em sua conduta pessoal. Alguns com mais classe e finesse, e outros de forma mais debochada e escatológica. Quem está mais certo? É óbvio que não sou eu quem vai julgar. Que venham todos !!

PS.: Como a intenção deste comentário é limitada, evitei, propositalmente, qualquer referência a artistas que, de uma forma ou de outra, estão vinculados ao imaginário gay nacional. Exemplos: Ney Matogrosso, Maria Bethania, Simone, Gal, Elza Soares, Cauby, Calcanhoto, Marina, Ana Carolina, Joanna, etc.

Também deixei de comentar obras de compositores que, em algum momento, se revelaram mais sensíveis(sic), tipo Caetano, Gil, Pepeu Gomes, Carlinhos Brown e outros.

Um agradecimento especial ao Urso pelas dicas. Beijos.

Iuri

HINO À DIVERSIDADE
Letra: Glauco Mattoso / Música: Laura Finocchiaro e Beto Firmino

Abrace a diferença!
Viver é diferente!
Se a gente diz que é gente [réplica:] Eu sou é quem eu sou!
Não tem o que nos vença! [variante:] Não há o que nos vença!

A DIFERENÇA É VIVA!
VIVA A DIFERENÇA!

Qual é o plural de "ão"?
É "ãos"! É "ães"! É "ões"!
Plural de cidadão?
São muitas multidões!

Qual é o plural de "ona"?
É dona! É mona! É zona!
Plural de cidadã?
Colega! Amiga! Irmã!

Qual é o maior plural?
É a singularidade! [variante:] É a diversidade!
A diferença é qual?
Unidos na igualdade! [variante:] Orgulho, liberdade!

Abrace a diferença!
Viver é diferente!
Se a gente diz que é gente [réplica:] Eu sou é quem eu sou!
Não tem o que nos vença! [variante:] Não há o que nos vença!

A DIFERENÇA É VIVA!
VIVA A DIFERENÇA







http://saoasvozesquemandam.blogspot.com/2004/08/mgb-msica-gay-brasileira.html




SE VC LEMBRAR DE ALGUMA MÚSICA COM DÚBIO SENTIDO DEIXE SEU COMENTÁRIOO!!VC SER LEGAL..

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